Ler e escrever


ESCRITA CRIATIVA


Textos dos alunos da turma do 5.º C

O Príncipe Nabo de Ilse Losa: Eu Sou
O Príncipe NaboO Príncipe Nabo

O Príncipe NaboO Príncipe Nabo


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Texto dos alunos da turma do 6.º C (clicar na imagem)

História de Erika

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Textos dos  alunos da turma do 6.º B: 

                                                 Cartas a Pedro Alecrim (clicar na imagem)


 

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Já alguma vez imaginou qual seria a sua cara se encontrasse uma tubarixa? E se fosse uma jacaraca? Ou uma porcoleta? O melhor é conhecer o livro e conviver com alguns desses animais. Será que eles existiram mesmo?! Bom, para não teres surpresas, o melhor é mesmo abrir a "Arca de Não É", não é?




👉Textos produzidos a partir da leitura orientada de A Arca de Não É de Miguel Neto, pelos alunos de 6.º ano


A ARCA DE NÃO É ...  e outros animais fantásticos!

ESCOMOSCA
(metade escorpião, metade mosca)

De pequenas dimensões, a Escomosca é um animal muito perigoso!
A Escomosca é parecida com a mosca, porque é pequena e consegue voar; mas não se assemelha ao escorpião, apesar de ser venenosa.
Temos de ser muito cuidadosos com a Escomosca, porque podemos morrer devido ao seu veneno mortífero!

Ana Beatriz e Marta, 6.ºA
TOURATO
(metade touro, metade rato)
O Tourato é grande como uma vaca e tem orelhas pequenas como os ratos.
          Devido à sua longa cauda, que lhe permite fazer cócegas nas costas de todas as vacas, e aos seus olhos meigos, o Tourato é muito apreciado pelas vacas, pois acham-no fofinho…
         O Tourato gosta de dormir em tocas mas, como é muito grande, destrói frequentemente as paredes ao tentar entrar… e fica desalojado!
Inês, Sara e Francisco, 6.ºA

Gacão
(metade gato e metade cão)

Com as capacidades de um cão, o gacão é no fundo um gato.
O gacão tem focinho de cão e corpo de gato, mas também tem garras de gato e cauda de cão.
Como o cão, não gosta de gatos, anda sempre a morder-se a si mesmo. Quando se zanga, ladra e mia ao mesmo tempo e, nas noites de lua cheia, uiva junto ao borralho para grande desespero dos donos.

Bruno e António, 6ºB

ARACOBRA
(metade aranha, metade cobra)

A Aracobra possui um corpo comprido, como o da cobra, e patas peludas, como a aranha.
A Aracobra faz teias para caçar pequenos insetos e adora rastejar pelas paredes acima, para caçar ratos e espalhar o seu veneno.
De corpo preto com manchas brancas e de língua bifurcada, a Aracobra é um animal assustador…
Tatiana S. e Mariana, 6.ºA

Caquito
(metade cabra, metade mosquito)

     O Caquito tem corpo de cabra, mas tem cabeça e asas de mosquito.
    O Caquito, em vez de picar, dá cornadas e, quando o Caquito dá cornadas a uma pessoa, nasce-lhe pelo na cabeça, motivo pelo qual são muito procurados pelas pessoas carecas.
    Quando matam o caquito nascem vários caquitinhos.
Eric e Viviana, 6.º A

Abulince
(metade abutre, metade lince)

O corpo do Abulince tem pelo castanho curto e penas nas omoplatas.
O Abulince caça, como os linces, e come cadáveres de animais, como os abutres. Toda a comida é aproveitada com o Abulince.
O Abulince consegue percorrer 20km a voar. E corre muito bem…
Fábio, 6.ºA


👉 Textos produzidos a partir do tema Na minha rua..., pelos alunos de 6.º ano

Na rua onde eu vivi

         Na rua onde eu vivi durante dez anos, passei momentos bons e menos bons.
         Conheci várias pessoas, como o Senhor Viana, o professor Cunha, a Carla e o Nuno, todos muito simpáticos, e também fiz muitas amizades, como a Sofia, com quem costumava brincar e conversar. Por outro lado, conheci o «Papa Gomas», o Zé Luís, o Senhor José e a Dona Glória, que não eram nada bons vizinhos.
O «Papa Gomas» embirrava com toda a gente, mas era ele e as suas tontarias que nos faziam rir, como daquela vez em que ele pegou numa trotinete e, ao andar dum lado para o outro, passou por cima duma pedra e acabou por dar um trambolhão. Eu e a minha mãe não nos conseguíamos parar de rir.
Na minha rua toda a gente me conhece por ser a filha do Landeira. E eu também conheço toda a gente da minha rua, os seus feitios e as suas características.
         Houve um dia que nunca mais vou esquecer. Foi o dia em que os meus pais se esqueceram de mim… Foi uma grande confusão: a minha mãe disse ao meu pai para ele me levar para a escola; o meu pai pensou que eu tinha ido embora com a minha mãe e foi-se embora. Quando acordei e não vi os meus pais fiquei assustada. Fui à janela espreitar para ver se estavam no café em frente, mas não vi nada. Entretanto, o professor Cunha estava a passar e perguntou-me o que se passava. Eu contei-lhe e ele disse para eu saltar da varanda. Saltei e fomos para o café. Seguidamente, ele ligou à minha mãe para me vir buscar e tudo acabou bem.
         Tenho muitas recordações boas e más… Mas continuo a lembrar-me de todas estas peripécias.

Tatiana, 6.ºA

Uma despedida inesquecível

Na minha rua, eu tenho muitos amigos. Uma das minhas melhores amigas chama-se Amanda. Ela é estrangeira, simpática e muito alegre.
            Num sábado à tarde combinamos ir almoçar à quinta de um amigo nosso. Montamos a cavalo e fartamo-nos de brincar. Durante o almoço, ela disse-nos que em breve se ia embora para o seu país de origem. Ficamos desolados!
Mais tarde, eu, a Sofia, a Filipa e a Ana decidimos escrever um texto de despedida para a Amanda.
            Quando anoiteceu, entramos todos no café lá do bairro e a Sofia mandou toda a gente sentar-se. Em seguida leu o texto. Foi muito emotivo. No fim da leitura, a mãe da Amanda começou a chorar, deu um abraço e um beijo a toda a gente e todos nós começamos a chorar.
            Saímos do café e fomo-nos sentar junto ao nosso prédio. A Amanda veio, começou a abraçar-nos, a chorar, e pôs-me a chorar, também. Não queria que a minha amiga se fosse embora.
            No dia seguinte, de manhã, fomos ajudá-la a levar as malas para o carro e despedimo-nos dela. Já ela tinha partido, quando recebi um telefonema da Amanda. Resultado: fomos ter com ela ao aeroporto pois ela tinha-se esquecido do seu peluche favorito.
            Tudo acabou bem, todos felizes.    
Viviana,  6ºA  


Uma história da minha rua

         Ao fundo da minha rua, depois de muitas casas, depois de muitos jardins e depois de muitos ribeiros de água gelada, há um muro… atrás desse muro há uma rua fantástica com uma subida ingreme e, ao lado, o Dólmen da Barrosa.
         Era uma manhã de nevoeiro cerrado, quando eu fui comprar pão como habitualmente.
         Não sei bem porquê, nessa manhã resolvi aventurar-me. Fui por outro caminho, mais escuro e cheio de buraco. Era um pouco assustador, mas eu adoro coisas assim! Foi muito difícil passá-lo, mas lá eu consegui. Depois disso, virei à direita e passei por cima de uma cobra, que parecia ter mais de um metro de comprimento. Pensei que ela tinha morrido, mas enganei-me, pois veio atrás de mim até ao mercado onde eu ia comprar o pão. Saí da bicicleta e entrei no mercado a correr. A cobra ainda tentou entrar, mas não conseguiu, pois as portas automáticas prenderam-na. Ufa! Comprei o pão descansado e fui para casa.
         Cheguei a casa sã e salvo. Quando contei aos meus pais esta aventura, eles estiveram a falar comigo mais de meia hora acerca do perigo que tinha corrido.
         Fiquei de castigo, mas não importa, o que importa é que vivi uma história emocionante na minha rua. 

                                                                           Gonçalo, 6.ºB
Ida para a prisão 

Num dia de primavera, muito quente, um grupo de amigos que vive na minha rua decidiu fazer uma corrida.
No grupo de amigos havia o Jack, que era valente, o Tom, que tinha inveja do Jack, e o António, que era amigo de toda a gente. Eles gostavam imenso de correr, pelo que decidiram fazer uma corrida à volta do quarteirão. Ganhava quem chegasse primeiro à porta do café lá da rua.
E a corrida começou!
A partida foi veloz e todos se esforçavam para ganhar, até que o Tom percebeu que estava a ficar cansado. Desesperado, tentou fazer uma rasteira ao Jack mas este desviou-se. Cada vez mais ofegante, o Tom procurava pensar num plano que lhe permitisse ganhar, quando caiu num buraco. Os seus gritos alertaram o Jack que foi ajudá-lo a sair de lá.
Depois de o Jack o ter ajudado, o Tom começou a discutir com ele e, como estavam a fazer muito barulho, os vizinhos chamaram a polícia e foram todos levados para a prisão.
Lá, foram metidos numa cela malcheirosa onde já estava um homem sinistro que olhou para eles com um olhar…
Mais tarde foram libertados, mas nunca mais se esqueceram daquele lugar, nem daquele homem com quem tiveram de partilhar a cela.

Francisco, 6.ºA

Gatos problemáticos

        A minha gata, chamada Fofa, teve três filhos. Dei-lhes os nomes Branquinha, Corajoso e Felpudo. Esses quatro gatos vivem no meu jardim, debaixo de uma árvore que é enorme. De manhã, gostam de passear pela horta da minha avó, à tarde, descansam debaixo da árvore e, à noite, estão na varanda a ver o que estou a fazer.
            Mas certo dia, tudo mudou.
            Foi numa manhã como as outras, quando reparei que os gatos só faziam disparates, saltavam por todo o lado e arrancavam as heras junto à horta da minha avó. Achei estranho, mas tinha que ir para a escola… Quando regressei, reparei que os gatos estavam na varanda a entornar as sementes que em breve iam ser semeadas. A minha mãe não estava nada satisfeita!
            No dia seguinte, quando cheguei a casa, olhei para a enorme árvore do jardim e algo me chamou a atenção: estava cheia de buracos! A minha mãe, quando descobriu, ficou mesmo zangada com os gatos e não lhes deu mais comida.
 Ao terminar o dia, os gatos estavam na varanda a bater nos vidros. Então a minha mãe enervou-se e pô-los de castigo. O castigo foi prendê-los dentro de um cesto durante três dias. Nos restantes dias, eles ficaram sem brincar.
            Quando a mãe finalmente os soltou, eles passaram o resto do dia sossegados. Voltara tudo ao normal, ou seja, adotaram a sua rotina de sempre.
Bruna, 6.º A

A noite de Halloween

Na minha rua, no dia 31 de outubro, festejei a noite de Halloween com os meus amigos. Fomos pedir «doçura ou travessura» pelas casas vizinhas. Eu fui vestido de lobisomem, o Rui de pantera, o André de zombie, e o Luís de morcego carnívoro.
Quando chegamos ao fim da rua vimos uma casa, vinda do nada, e ficamos cheios de medo. Então, nós entramos muito devagarinho pelo jardim mas, subitamente, um homem apareceu e perguntou com muita raiva:
- Quem são vocês? O que fazem na minha casa?
- Doçura ou travessura! - exclamou o André.
- Se pensam que vos vou dar dessas coisas amarelas e vermelhas meias açucaradas, estão muito enganados! - resmungou o velho.
- Isso é o que nós vamos ver! - ameaçou o Luís.
Passado alguns minutos, o velho já estava dentro de casa e nós começamos a planear a vingança.
O Rui disse para atirar pedras para dentro da velha chaminé. E foi isso que fizemos: atiramos pedras, cada vez maiores, mas não deu resultado nenhum. Então, o Luís propôs enchermos a casa dele de aranhas, mas também não resultou porque o velho parecia não ter medo delas. Eu achei que devíamos música aos altos berros junto à da casa e dizer-lhe para nos dar guloseimas, mas o velhote devia ser surdo.
            Então o André sugeriu fazermos aquelas coisas todas ao mesmo tempo, visto que não havia mais ideias. Experimentamos e deu resultado: o velho não conseguiu aguentar com tudo de uma vez e aceitou dar-nos doces.
            Foi uma noite inesquecível!
Rafael – 6.º A


Dia de loucuras

            No dia 19 de agosto de 2011, em Amonde, aconteceu uma coisa muito estranha. Estava a acordar quando vi cinco carros dos bombeiros: três de combate às chamas, um autotanque e um carro de comando de Vila de Chã. Fui a outra janela e vi bombeiros, polícias e sapadores florestais em grande azáfama. Ouvi um barulho e, quando olhei para o céu, avistei no meio do fumo três helicópteros e dois Canaderes.

Soube mais tarde que um senhor muito rico chamado Migas, que veio de França, fez uma fogueira que alastrou pelo monte e se transformou num enorme incêndio.
Preocupada, toda a minha família resolveu ajudar os bombeiros. Eu fui levar-lhes bolachas e água.
Um bombeiro perguntou-me; «-Queres segurar aqui na mangueira?» E eu, todo contente, peguei nela. A água saía com muita força, tanta que eu quase caí, mas o bombeiro segurou-me.
A seguir, puseram-me em cima dum camião dos bombeiros onde estava um canhão de água. O motorista perguntou se eu estava pronto e, quando eu disse «Sim», arrancou em alta velocidade em direção ao Pincho para abastecer, seguido por outros cinquenta camiões. Só se ouviam gritos e sirenes. Eu também gritei, de medo e de emoção.
             Foi um excelente trabalho de equipa e ao fim de algumas horas o incêndio foi dominado. No final, houve uma jantarada para comemorar.
E acabou assim o dia. Foi assim um dia de loucuras, aflição, trabalho em equipa e alegria. 

Miguel, 6.ºB
 
Na minha rua

Tudo começou no campo de futebol lá do bairro onde eu jogava com a minha equipa chamada Velozes Futebol Club. A equipa tinha 15 jogadores, sempre unidos e muito fortes. Treinávamos todos os dias porque queríamos ganhar a grande taça.
No dia do jogo decisivo, chovia intensamente quando nos dirigimos para os balneários. Equipamo-nos para o jogo frente aos R.U.P que, embora fosse uma equipa fraca, eliminara na semana anterior a melhor equipa do campeonato.
Quando entramos no campo, começou o jogo.
Os adeptos gritavam entusiasticamente. O adversário não era fácil, mas quando eu marquei o primeiro golo, foi a alegria geral.
Ao intervalo o resultado mantinha-se. O que iria acontecer na segunda parte?
Entramos para a segunda parte com muita fé e energia para conseguirmos um grande resultado. De repente, aos 80 minutos de jogo, os R.U.P marcaram. Foi o desânimo!
Quando acabou a segunda parte, e depois de um pequeno intervalo, fomos a grandes penalidades. Nos dois primeiros penaltis os R.U.P falharam, mas nós marcamos. Se eu marcasse o próximo penalti, ganhávamos. Concentrei-me. Chutei a bola com toda a minha perícia e... Golo!
«Ganhamos, ganhamos!» gritei eu, louco de alegria.
Fomos para a entrega das medalhas e recebemos a grande taça. Eramos campeões!
Foi o dia mais feliz da minha vida.  

Nuno, 6ºB


Na minha rua
       A minha rua é calma e tornou-se muito agradável, quando há pouco tempo construíram lá um edifício novo que tem um parque muito bem cuidado.
Em frente ao meu prédio, havia uma construção abandonada com um grande letreiro, onde já faltavam algumas letras, a anunciar a antiga discoteca «FREE PLAY». Era um pouco deprimente…
Ora certa noite, houve uma forte tempestade. O vento soprou muito e partiu as janelas de todos os apartamentos e arredores… até todas as letras do letreiro da discoteca caíram! Falhou a luz e eu fiquei com medo.
Quando a tempestade passou, fomos todos pedir ajuda uns aos outros e todos os habitantes da rua ajudaram a limpar e reconstruir o bairro. Tivemos um mês de trabalho intenso para reconstruir tudo.
No final, fizemos uma festa na discoteca, agora plenamente funcional. A rua parecia outra. Todos estavam felizes e eu fiz amigos novos.
                                                                                                                  
Inês, 6ºA  

Uma história da minha rua

Perto da minha casa corre um rio de águas límpidas e aparentemente tranquilas. Mas o que as pessoas não sabem é que esse rio é bastante perigoso e quem não o conhecer bem pode correr risco de se afogar.
Num dia de verão bastante quente, um grupo de amigos foi até ao rio para se divertir e refrescar. Tudo correu bem, até que durante a tarde, um dos rapazes resolveu mergulhar num sítio bastante profundo. Pouco tempo depois, estava a pedir socorro. As pessoas que estavam na margem do rio ainda tentaram ajudá-lo, mas era demasiado perigoso. Chamaram os bombeiros e estes salvaram-no mesmo a tempo. Em seguida, foi levado para o hospital onde lhe foram prestados todos os cuidados.
Os outros colegas ficaram bastante assustados e acompanharam sempre o amigo.
Felizmente, tudo acabou bem e não passou de um grande susto para todos. Mas da próxima vez...
Joana, 6ºB

👉Uma amizade....
Duas amigas e um esquilo
 
             Um mês depois, Sandra Vanessa regressava da escola, na companhia da sua amiga e trazia vestido um casaco de pele de lobo. Estava um dia muito frio e as meninas caminhavam pelo bosque, alegres e muito faladoras.
              A certa altura, ouviram um ruído muito estranho, vindo do meio da vegetação. Era um som estridente e assustador. Apavoradas, esconderam-se atrás de um arbusto que por lá havia e Sandra Vanessa decidiu espreitar. Foi aí que viu um pobre esquilo a sangrar de uma das patas e ficou triste e cheia de pena. Conversou com a amiga e decidiram socorrer o animal, que tinha sido atacado por uma raposa. Havia por aqueles lados muitas pegadas de animais, mas a mais recente era de uma raposa.
     Pararam por ali, estenderam o casaco de pele de lobo no chão e trouxeram o esquilo para o observarem com mais cuidado. Viram que o animal estava bastante ferido e lembraram-se que na sua mochila traziam restos de bolachas, alguma água e um pacote de lenços de papel. Deram-lhe de comer, curaram-lhe a pata, enrolando-a com lenços de papel, humedecidos em água. Depois, levaram-no ao colo, embrulhando-o no casaco de pele de lobo e, subitamente, enquanto regressavam a casa, eis que surge o guarda-florestal. Este interroga-as e, de repente, uma raposa ataca-os, atraída pelo cheiro do casaco de pele de lobo. No meio da confusão, o esquilo salta do meio do casaco, ataca a raposa e o guarda-florestal, que, preocupado com as meninas, esquece-se completamente do esquilo e afasta a raposa daquele local.
            Entretanto, as meninas, já a salvo, correm em direção a casa, ansiosas por contar aos pais e à avó o que lhes tinha acontecido naquela tarde bastante diferente, esquecendo-se que tinham deixado o esquilo perdido pela floresta. Este, atraído pelos restos de bolacha e pelo cheiro do casaco de pele de lobo, vai ao encontro das meninas. Finalmente, o esquilo encontra-as em casa da família e este fica por ali a rondá-la, em busca de mais umas bolachinhas deliciosas.
Trabalho coletivo do 5.ºC





Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, dia 3 de Dezembro

O desejo de Nathan
A minha vizinha, Miss Sandy, é reabilitadora de aves de rapina, ou seja, toma conta de aves feridas, como corujas e falcões, até elas serem capazes de voar de novo.
Todos os dias, vejo-a misturar medicamentos, distribuir comida e limpar as grandes gaiolas que tem no pátio. Por muito cansada ou ocupada que esteja, Miss Sandy tem sempre tempo para falar comigo acerca dos pássaros.
O meu maior desejo era poder andar sozinho para poder ajudá-la nas tarefas, em vez de estar apenas a observar. Mas, como tenho paralisia cerebral, os meus músculos não têm força suficiente para que eu ande sem cadeira de rodas ou andarilho.
Certo dia, Miss Sandy mostra-me uma coruja-das-torres, que tem uma asa partida. Embora a asa esteja dentro de uma tala, a coruja tenta escapar debatendo-se contra as paredes da caixa de madeira onde foi colocada.
— Vai ter de ficar aqui até a asa sarar — diz Miss Sandy. — Que nome achas que lhe devemos dar, Nathan? — pergunta-me.
Os olhos brilhantes e amarelos da coruja faíscam, zangados.
— Que tal Fogo? — proponho.
— Parece-me um bom nome — concorda Miss Sandy. — Espero que em breve a Fogo acalme.
Contudo, em cada dia que passa, a Fogo continua a lutar para ser livre e preocupo-me que se magoe de novo. Finalmente, Miss Sandy tira a tala da asa e coloca a coruja numa gaiola.
— A Fogo precisa de exercitar a asa — explica-me.
À medida que as semanas passam, a asa torna-se cada vez mais forte e a Fogo é colocada numa gaiola maior. Por vezes, ignora os ratos mortos que Miss Sandy lhe traz e prefere perscrutar o céu. Percebo que gostaria de caçar a sua própria comida.
— Quanto tempo falta para ela poder voar de novo? — pergunto, um dia.
— Uma asa partida demora muito a ficar curada — respondeu Miss Sandy. — Pareces tão impaciente quanto ela, Nathan!
E estou. Estou ansioso que a Fogo seja de novo livre. Quando estou na escola e vejo um pássaro a voar lá fora, penso na Fogo e deixo de ouvir o professor.
À noite, quando oiço um grito estridente vindo do pátio, pergunto-me se a Fogo estará a chamar os amigos.
Um dia, vejo a gaiola dela vazia. Miss Sandy colocou-a numa pequena caixa que segura nas mãos.
— Vou pô-la na gaiola de voo, para ver até onde consegue ir — explica-me.
Enquanto a sigo, oiço o coração a bater nos meus ouvidos. Se a Fogo voar bem, Miss Sandy irá libertá-la hoje! Sustenho a respiração enquanto ela vira a caixa gentilmente, de forma à coruja pousar no chão da gaiola. A Fogo dá um salto e voa, forte e bonita.
Contudo, de repente, inclina-se para o lado e começa a descer. Embora tenha os olhos bem fechados, consigo ouvir o baque suave da sua aterragem desajeitada. E quando abro os olhos, vejo Miss Sandy a abanar a cabeça. Dou-me conta, de repente, de que a Fogo nunca será libertada. Não tem a asa suficientemente forte para sobreviver na floresta.
— Pobre Fogo — lamenta Miss Sandy. — Queria tanto ser livre!
Viro-me para que ela não veja as lágrimas no meu rosto. Sei muito bem o que é ter um desejo que não se pode realizar.
Depois desse dia, a luz dos olhos da Fogo apaga-se. Recusa a comida e nem sequer tenta sair da gaiola.
— Por favor, não desistas! — sussurro-lhe.
Mas ela continua imóvel como uma estátua, em cima do poleiro.
Deve haver uma forma de ajudar esta coruja. Procuro, no computador, informação sobre aves feridas. Deparo com um corujão-orelhudo quase cego que toma conta de corujinhas órfãs até estas terem idade para serem libertadas. Talvez a Fogo consiga fazer o mesmo. Imprimo a informação e mostro-a a Miss Sandy, que diz:
— Vale a pena tentar. Tenho três crias que ficaram órfãs na tempestade da semana passada.
Miss Sandy põe as três crias na gaiola da Fogo. As corujinhas balançam as cabecinhas e emitem uns pios engraçados. Mas a Fogo não parece interessada em crias esfomeadas ou no que quer que seja.
Como não suporto vê-la tão infeliz, decido ficar em casa alguns dias, cheio de tristeza por ela e por mim. Uma noite, Miss Sandy toca à nossa porta e entra de rompante.
— Vem comigo, Nathan! — pede. — Tens de ver a Fogo!
Antes de me aperceber do que está a acontecer, já Miss Sandy conduz a minha cadeira aos tropeções até casa dela. Finalmente, estaciona-me junto da gaiola da Fogo.
— Olha! — sussurra.
Nem posso acreditar no que vejo. A Fogo pega num pedaço de carne que estava no chão e leva-o, aos saltos, até à gaiola-ninho, onde o depõe no bico de uma das crias. Embora o seu desejo de ser livre não possa realizar-se, a coruja encontrou algo de importante para fazer. E isso dá-me uma ideia!
No dia seguinte, vou até casa de Miss Sandy e olho para o pátio. Posso não poder andar sozinho, mas vou encontrar uma forma de a ajudar nas suas tarefas! Sei que os baldes são demasiado pesados; contudo, posso encher as tinas de banho das aves com a mangueira. Demoro bastante tempo a desdobrá-la e a arrastá-la até cada uma das gaiolas. Mas não desisto até as tinas estarem todas cheias.
Quando vejo a carrinha do correio a aproximar-se, vou até ao fim da alameda e recebo a correspondência para Miss Sandy. Enfio as cartas no bolso do meu casaco e levo-as até casa dela. Quando são horas de alimentar os pássaros, ofereço-me para ficar no escritório a atender os telefonemas. O telefone toca quatro vezes e anoto os recados.
Antes de ir-me embora, Miss Sandy abraça-me e diz:
— Ajudaste-me muito hoje, Nathan.
Fico corado e baixo a cabeça. Mas sorrio. Agora sei o quão orgulhosa a Fogo se sente!
Laurie Lears
Nathan’s wish: a story about cerebral palsy
Illinois, Albert Whitman & Co, 2005
(Tradução e adaptação)

👉 Na companhia dos morcegos...

Na Floresta Negra

    Era quase o fim do verão, quando o Carlos me convidou para acampar com ele na Floresta Negra.
    Preparamos as mochilas com tudo o que nos fazia falta para passar uns dias acampados.
    Chegados à floresta, escolhemos uma clareira que tinha um lago perto para montar as tendas. Divertimo-nos a tomar banho e a pescar durante todo o dia.
    Tudo correu bem, mas à noite… começou a minha aventura. O Carlos tinha sono e, por isso, foi dormir. Eu resolvi pegar numa lanterna e ir explorar a floresta. Ia andando com cuidado para não tropeçar, parava quando ouvia algum ruído. Até que encontrei uma mina e resolvi entrar, mas, de repente, algo passou por mim e eu, com o susto, deixei cair a lanterna no chão e fiquei às escuras. Cheio de medo fui às apalpadelas até encontrar um sítio para me sentar e ali passei a noite, com medo e frio, na companhia dos morcegos que lá havia.
    No dia seguinte, voltei para o acampamento e contei a minha aventura ao Carlos.

João, 6.ºE



O MENINO-MORCEGO de Paul Jennings


  Uma pedra com um buraco. Uma espécie de jóia verde numa bolsa de couro. Ali caídas, pura e simplesmente, sob o feixe de luz da minha tocha.
  Alguém a devia ter deixado cair. Mas quem? Não havia nada nem ninguém para além do meu pai, de mim e das nossas pequenas tendas no meio do mato. Apanhei a bolsa pelo fio de couro que a atava. Depois, rastejei de regresso à minha tenda. Deveria ter mostrado ao meu pai a pedra com o buraco. Mas ele ressonava profundamente na sua tenda e não o quis acordar. E havia ali algo de estranho. A bolsa estava gasta e o fio torcido. Como se tivesse andado durante muitos anos ao pescoço de alguém. Quem é que a teria perdido no meio de nenhures?
   Aconcheguei-me no meu saco de dormir e esperei que ninguém andasse a bisbilhotar. Os ruídos do mato pareciam particularmente fortes. As rãs coaxavam num pequeno charco.
  Algo se aproximava pelo matagal. "Um canguru", sussurrei. Um grunhido encheu o ar nocturno. "Um coala", esperei.
   Fechei os olhos e procurei forçar o sono. Disse a mim mesmo que a tenda do meu pai não estava a mais de uns metros dali. Amedrontada? Eu estava aterrorizada. E se houvesse alguém do lado de fora?
  Um galho quebrou-se. Estalou nitidamente na noite. Sustive a respiração. Imobilizei-me. Queria chamar o meu pai, mas a boca não funcionava.
  A aba da tenda ergueu-se. Alguém se mexeu. Uma sombra que ciciava, procurava. Um par de mãos apoderou-se da minha saca e abriu-a. Queria gritar mas algo me impedia.
  Duas cabeças de agulha luminosas movimentavam-se numa cabeça escura. Olhos. Olhos desesperados.
  Mexi lentamente os dedos em direcção à tocha. "Devagarinho, não o perturbes. Não o zangues." As mãos tremiam-me quando apontei a tocha à escuridão. Sentia-me como um soldado com uma arma sem balas. E lá estava. Um rapaz selvagem com cabelo emaranhado e pele gordurosa. Coberto de trapos esvoaçantes.
  O rapaz recuou. Tinha um pedaço de bolo da minha saca e a bolsa com a pedra oca. Inspirou com um silvo, voltou-se para fugir e, nessa altura, deteve-se. Fixou-me numa súplica silenciosa. Um grito desesperado de ajuda. Colocou a mão diante do rosto para se proteger da luz da tocha. Deveria ter chamado o meu pai. Mas os meus olhos estavam prisioneiros, num diálogo silencioso com o intruso.
   Conseguia perceber que o rapaz estava tão assustado como eu. Estava preparado para fugir. Como um animal selvagem à procura de alimento, mas incapaz de o roubar a uma mão humana. Tinha de ser cuidadosa. Um movimento em falso e ele…
   - Hei!-, gritou o meu pai.
  Foi exactamente como se alguém tivesse apagado uma luz. O rapaz sumiu-se num piscar de olhos. Nem cheguei a vê-lo desaparecer.
  Sentámo-nos, eu e o meu pai, quase a noite inteira, a falar do que sucedera.
  Constava que um eremita chamado Lonely Pearson ali vivera, em tempos, numa cabana, com a mulher e o filho. A mulher era uma especialista em morcegos, tal como o meu pai. Tinha morrido há nove anos e Lonely ficara revoltado à conta do desgosto. Queimou tudo o que pertencera à mulher. Tinha sido quase como se estivesse furioso com ela por ter morrido, deixando-o com o seu filho pequeno, então com cinco anos: Philip. A única coisa que deixara tinha sido uma pedra verde com um buraco. A mãe de Philip sempre a usara à volta do pescoço. Ele costumava brincar com ela quando a mãe lhe contava histórias, à hora de se deitar.
   Após a sua morte, Philip escondera a pedra. O pai gritara. Quase desfizera a cabana aos pedaços. Mas Philip não lhe mostrava onde a escondera. Fechara a boca, guardara o segredo e Lonely nunca encontrara a pedra.
  - E o que aconteceu ao Philip? - perguntei ao meu pai.
  - Sumiu-se no mato. Lonely nunca o encontrou. Ninguém o encontrou. A polícia procurou-o semanas a fio.
Todos pensaram que tinha morrido. Inspirei fundo.
  - E Lonely? - indaguei.
  - Passou o resto dos seus dias à procura do filho. Nunca desistiu. Morreu no ano passado.
  Não conseguia deixar de pensar naquele rosto triste e espantado que me fixara à luz do luar.
  - Como é que ele consegue viver lá fora? - interroguei. – As noites arrefecem são frias. E não há nada para comer.
  O meu pai abanou a cabeça e apagou a lanterna de querosene.
  - Boa noite, Rachel.
  Ouvi-o fechar o fecho do seu saco de dormir.
  - Boa noite - resmunguei.
 O dia seguinte estava quente. Esforçámo-nos através do denso matagal. Subimos encostas secas e rochosas com picos aguçados que nos arranhavam. Era muito bonito, mas a minha mochila estava pesada. Tal como o meu coração. Havia tristeza no ar. Às vezes, chegava a pensar que sentia alguém a observar-nos. Mas não conseguia nunca ter a certeza. Voltava-me rapidamente. Um ramo tinha-se movido um pouco. Ou será que não?
  Parámos para almoçar. O meu pai deu-me uma fatia de bolo. Embrulhei-o e meti-o no bolso.
  - Não tens fome? - perguntou o meu pai.
  - Estou a guardá-lo para mais tarde - respondi. Realmente estava. Mas não para mim. Eu tinha outros planos para aquela fatia.
   Enfiámos tudo nas mochilas e recomeçámos a caminhada. Estávamos cada vez mais alto.
  O meu pai era um defensor da natureza. E de todas as criaturas vivas, as suas preferidas eram os morcegos. Íamos a caminho de uma caverna de morcegos em Bat Peaks. O meu pai ia bloquear a entrada da caverna. O tecto estava a começar a cair. Se se desmoronasse, toda a colónia de morcegos seria destruída.
  - Mas vão todos morrer à fome! - tinha eu exclamado da primeira vez em que me contara o plano.
  - Não - respondera. - Bloqueamos a entrada à noite. Quando eles tiverem saído para comer. Serão forçados a encontrar outra caverna. É a única forma de salvar a colónia.
  E ali estávamos. A trepar montanha acima. A caminho de rebentar com uma caverna de morcegos antes que se desmoronasse e os matasse.
  Nessa noite, acampámos numa clareira. Sobre nós, as estrelas enchiam o frio da noite como uma mão-cheia de açúcar que alguém tivesse lançado ao céu. As árvores eram fantasmagóricas e cinzentas. Estremeci só de pensar que alguém pudesse viver ali. Só e descalço. O meu pai arrastou-se para a sua tenda.
  - Vai dormir, Rachel - disse-me.
  - Vou ficar junto à fogueira só mais um bocadinho - respondi-lhe.
  Não se conseguia enganar facilmente o meu pai. Ele sabia o que eu estava a preparar.
  - Ele não vai aparecer - garantiu. - É selvagem e está assustado. Podemos arranjar um grupo para o procurar quando regressarmos.
  Os ruídos da noite faziam-me companhia. Fixei as frinchas escuras da floresta. Queria que Philip aparecesse. Por fim, o fogo extinguiu-se. Caminhei lentamente até à beira das árvores e parti um pedaço de bolo. Coloquei-o sobre uma rocha. Repeti o gesto uns metros adiante. Criei um trilho de bolo que conduzia até junto da fogueira que se esvanecia. Então, sentei-me e aguardei.
  Passaram-se minutos. Depois, horas. Lutei para manter os olhos abertos. Mas não consegui. Não se consegue afastar o sono eternamente. Não sei durante quanto tempo dormi. Mas algo me acordou. Não era um ruído. Nem nada da floresta. Acordei estremunhada e olhei em redor da clareira. Algo faltava. A primeira fatia de bolo. Desaparecera. Nessa altura, vislumbrei duas coisas. No cimo de uma árvore, estava uma figura sombria que me olhava de um ramo. E na berma da clareira havia mais alguém. Tive a certeza de que era Philip. E era.
  Avançou cautelosamente. Ainda estava vestido um pedinte. Centenas de trapos esvoaçantes pendiam do seu corpo. Os olhos moviam-se rapidamente de um lado para o outro. Olhou primeiramente para o bolo e depois para mim. Avançou mais uns passos e pegou no bolo. E ali estava Philip, uma revelação. Por instantes, não consegui entender claramente o que via. Os seus farrapos esvoaçavam com a brisa. Mas era uma noite calma e não havia brisa. Tinham vida própria. Os seus farrapos fervilhavam e rastejavam e rangiam.
  O rapaz selvagem estava coberto de morcegos. Pendiam dos seus braços, do cabelo, do peito. Estava vestido com morcegos vivos. Mal conseguia acreditar. Apenas os seus olhos se viam bem. Os seus bonitos olhos escuros. Gritei e cambaleei para trás. O movimento alarmou Philip e ele tapou o rosto com os braços. Era como um livro vivo com as páginas cinzentas desfolhando-se numa tempestade. Dois morcegos elevaram-se no ar e deslizaram para debaixo das árvores. Fitou-me amedrontado e olhou para os morcegos a voar em círculos. Sem uma palavra, levou as mãos à boca e começou a assobiar suavemente. Os morcegos nas árvores regressaram de imediato e colaram-se-lhe ao cabelo. Os restantes acalmaram-se.
  - Desculpa - disse-lhe numa voz enrouquecida. - Não queria assustar-te.
  Havia um sem-número de coisas que lhe queria dizer. Senti-me corar. Queria dizer algo terno. Algo que revelasse interesse. Algo que nos tornasse amigos. Mas tudo o que consegui dizer foi: - Come um pouco de bolo.
  Philip fitou-me. Seguidamente, olhou para o bolo. Conseguia ver que não sabia bem o que fazer. Perguntei--me se já alguma vez encontrara uma rapariga. - Sou tua amiga - disse-lhe. - Não te faço mal, prometo. Ele tinha fome. Acho que há muito, muito tempo que não provava uma fatia de bolo. Talvez tivesse andado a alimentar-se de comida de morcego. Fruta e traças e outras coisas assim.
  Lançou-me uma espécie de sorriso. Esboçado. Mas foi suficiente para me acelerar tanto o coração que até doeu. Começava a confiar em mim. Talvez até começasse a gostar de mim. Rápido como uma cobra que ataca, lançou-se ao bolo e começou a mastigar. Se ao menos conseguisse levá-lo a confiar em mim... Então, conseguiria falar com ele. Convencê-lo a ficar. Ele engoliu o último pedaço e, então, limitou-se a ficar ali, olhando-me directamente nos olhos. Lentamente, dei um passo em frente.
  - Está tudo bem - murmurei. - Tudo bem.
  Os morcegos murmuravam e moviam-se. Ele estava pronto a fugir. Mas deixou que me aproximasse. Havia um laço invisível que nos ligava.
  - Aghh!... - ouviu-se um grito terrível do cimo das árvores. Um ramo quebrou-se com um estalido. Era o meu pai.
  Os morcegos espalharam-se pelo ar como um enxame de enormes abelhas. O manto de Philip sumira-se. Ficou ali, nu. Olhou-me fixamente. Pensou que tínhamos tentado montar-lhe uma armadilha. Ergueu o punho e então, ponderando melhor, esgueirou-se para a floresta.
  - Volta! - exclamei. As lágrimas escorriam-me pela cara abaixo. - Por favor, volta...
  Mas ali apenas restavam os morcegos, aos círculos sobre mim, soltando guinchos de medo.
  Corri para o meu pai: - Desculpa - disse ele. - Tive que te vigiar.
  - Estás bem? - perguntei-lhe.
  O meu pai tentou erguer-se, mas não conseguiu: - Torci o tornozelo - gemeu..
  Um assobio suave e rangente trespassou a noite. Era o assobio que Philip fizera com os dedos. Os morcegos guincharam freneticamente, completaram mais um círculo e voaram em direcção ao som. O meu pai e eu estávamos sós na clareira escura e silenciosa.
  Tinha a cabeça cheia de pensamentos frenéticos. "Philip. Traímos-te. Pai, como é que foste capaz de me espiar? Pai, estás magoado?" O meu pai gemia, agarrado ao tornozelo: - É o fim da nossa expedição - disse. 
  - Não consigo andar.
  - Mas... e os morcegos? A caverna vai desabar. Toda a colónia morrerá se não rebentarmos com a caverna.
  - Lamento, Rachel - disse o meu pai. - Não me consigo mexer. E tu não podes ir sozinha. Ficamos aqui. Os Rangers vão mandar um helicóptero quando virem que não voltamos a tempo. Respirei fundo: - Mas isso é daqui a três dias! E se a caverna se abater sobre eles? Vou sozinha.
  - Não sejas tonta - disse o meu pai. - Nunca viste sequer um pau de dinamite. Nem te deixaria chegar perto de um. Acabavas por te matar.
   Agarrou na sua mochila e segurou-a energicamente. A dinamite estava guardada lá dentro.
  - Há uma coisa em que não pensaste - disse eu. Philip. Anda coberto por morcegos. Veste-os como se fossem roupas.E assobia com os dedos e chama-os.
  - Sim? - quis saber o meu pai.
  - Onde é que achas que ele vive? É um rapaz-morcego. Deve viver naquela caverna com os morcegos. E o tecto está prestes a cair em cima dele. Temos que o salvar.
  O meu pai manteve-se em silêncio por instantes. Sabia que eu tinha razão.
  - Não vais a lado nenhum - disse por fim. - Podes-te perder. Não sabes mexer na dinamite. De qualquer maneira, o rapaz não vai sair da caverna. Ele é selvagem. Ficamos à espera da chegada de auxílio. E mais nada. Quando um pai diz "E mais nada", normalmente é assim mesmo. Mas não desta vez.
Não sei como explicá-lo. Mas não conseguia deixar de visualizar o rosto de Philip. Tinha o estômago às voltas. Aquela caverna poderia desabar a qualquer momento. Poderia morrer sozinho, coberto de morcegos.
   - Eu vou - disse. - E não me podes impedir.
   - Não - disse o meu pai com uma expressão férrea. - Só tens catorze anos. Estás proibida.
   - Tens o tornozelo torcido e não te consegues mexer - respondi-lhe. - Adeus.
  Voltei costas e comecei a avançar para fora da clareira, em direcção à floresta.
  - Está bem. Está bem, Rachel - chamou-me. - Volta. Tens de ir preparada. Leva comida e uma bússola.   Cordas. Tudo. Senão, vamos ter dois adolescentes mortos.
  Enchi a minha mochila. Ao amanhecer, parti. Segui em direcção a Bat Peaks. A montanha agigantava-se sobre nós. Como um par de asas gigantes.
   - Lembra-te - exclamou o meu pai. - Não entres na caverna. Promete-mo!
   - Sim - respondi, enquanto me embrenhava mato adentro. - Prometo.
  O caminho era duro. Quanto mais subia, mais difícil se tornava. As árvores cederam o espaço a rochas gigantes e matagal. Sentia os meus joelhos ásperos e via-os sangrar. Ainda assim, não me importava. Tinha de conseguir tirar Philip e os morcegos para fora da caverna. Mas como? Levei os dedos aos lábios e soprei. O resultado foi apenas um bafo de ar quente. Se conseguisse aprender a assobiar com os dedos talvez conseguisse chamá-lo. E levar os morcegos a sair. Mas não conseguia apanhar-lhe o jeito.
   Antes que me conseguisse aperceber, já estava a escurecer. Estava empoleirada bem acima da floresta numa saliência da montanha. Enfiei-me no meu saco-cama e esperei não cair da saliência abaixo enquanto dormia. Não que tenha propriamente dormido. O chão era duro. E não conseguia deixar de pensar em Philip. Assim, pus-me a tentar assobiar com os dedos. Mas nem um som me saía. Era inútil.
   No dia seguinte, continuei a escalada. Havia rochas que rolavam e se despedaçavam aos meus pés. Comecei a sentir-me inquieta. Nem parei para descansar. Sabia que o tempo voava demasiadamente depressa. Não parei para nada. Nem sequer para usar a bússola. Afinal de contas só havia um caminho: para cima. Foi assim que me perdi e que caí numa fenda. Perdi a minha mochila e fiquei atordoada.. Finalmente, rastejei para fora dali e chorei. Não tinha nenhum mapa. Estava completamente perdida. Foi quando vi a bolsa de couro. Cambaleei e agarrei-a. Olhei lá para dentro. A pedra verde com um buraco. Philip devia tê-la deixado cair novamente. Duas vezes em três dias? Era a única coisa que tinha e que lhe recordava a mãe. Sorri. Conclui que deveria tê-la deixado ali propositadamente. Para mim. Para me mostrar o caminho. Foi o que esperei.
   Agarrei na bolsa e prossegui aos tropeções em direcção ao topo de onde todos os penhascos tombavam. Uma pequena ponte rochosa espalhava uma quebra sob o vale. E ali, do outro lado, suspensa, estava a caverna.
   Normalmente, eu não atravessaria aquela ponte de pedra. Por nada no mundo. Mas acabei por forçar as minhas pernas bamboleantes a avançar. E cheguei lá, perscrutando a caverna. Estava tudo em silêncio.
Olhei para o tecto da caverna. Pareceu-me perfeitamente bem. Como é que o meu pai sabia que acabaria por cair? Levei os dedos à boca e soprei. Nada. Não conseguia arrancar um assobio. Nem um gemido. Inútil.
   - Philip! - chamei. - Philip, sai. A caverna vai desabar.
  Como resposta, obtive apenas o silêncio.Esqueci-me do que prometera ao meu pai. Com o coração aos saltos, penetrei na escuridão. Um ruído borbulhante e suave rodeou-me. Quando os meus olhos se acostumaram à escuridão, apercebi-me de uma rocha gigantesca no tecto. Parecia mover-se. Movia-se. Estava coberta por centenas de morcegos pendurados nela. Quanto tempo até que aquela rocha caísse? Tremi.
   - Philip - chamei, ansiosa. - Philip.
  Nem sinal de resposta. Levantei a voz: - Sai daí, tonto! - gritei. - Sai daí!
  Não era Philip que era tonto. Era eu. A minha voz ecoou de forma terrível pelas paredes. Fez balançar as rochas. Sem aviso, a rocha do tecto mergulhou em direcção ao chão. Toda a montanha estremeceu. Encheu a caverna de pó sufocante. Milhares de morcegos misturaram-se à poeira. Aos círculos, aos guinchos. Fugi em direcção à luz brilhante do sol. Outra rocha caiu. O som que provocou ao esmagar-se contra o solo fez estremecer as paredes. Mais rochas caíram.
   - Philip! - gritei. - sai daí!
   O pó, como fumo de uma chaminé que tivesse caído, ondeou contra o ar da montanha. E dele surgiu Philip.
  Tinha sangue que lhe escorria de um ferimento profundo na cabeça. Arrastou-se até ao exterior e caiu-me aos pés. Inconsciente. Nu. Sem nada vestido
  Pobre Philip. Exposto ao vento. Estaria morto? Não o sabia. Arrastei-o para longe. Puxei-o até à ponte de pedra. E então estaquei e fiquei a olhar, aterrorizada com o que vi. A ponte tinha-se partido. Tinha caído no vale, lá em baixo. Estávamos encurralados no cimo da montanha. Não havia como voltar.
Devia tê-lo protegido com o meu pulôver. Tapado a sua nudez. Mas não havia tempo. Ainda havia rochas a cair. Não havia forma de descer. E os morcegos. Os morcegos estavam condenados.
  - Socorro! Alguém, por favor, ajude!
  Ninguém respondeu. E estava só. Ergui os punhos à altura dos lábios e soprei. Queria tanto salvar os morcegos! Tentei assobiar alto, mas nada aconteceu. Os morcegos iam morrer por minha causa. Por eu ter levantado a voz e perturbado as rochas. E Philip... Iria, também ele, morrer?
Então, abriu os olhos. Olhou para mim. Estariam os seus olhos a acusar-me de ter matado os seus amigos?
   Nada disso. Sorriu. Tentou falar mas não conseguiu. Tocou na bolsa que eu trazia à volta do pescoço. A pedra da sua mãe.
   - Isto - disse eu. Ele acenou e voltou a cerrar os olhos.
  Retirei a pedra verde. Comecei a soprar através do buraco. O ar encheu-se com um assobio forte e nítido. O som mais maravilhoso que alguma vez escutara. Um ruído de trovão ecoou da caverna. Não de rochas em queda, mas de asas a bater. Centenas, milhares, milhões de asas irromperam da caverna. Tornaram o céu mais escuro. Encheram o cimo da montanha até só se avistar uma nuvem cinzenta. Philip reabriu os olhos e sorriu. Pegou na pedra que eu tinha nas mãos e soprou. Assobiou a sua mensagem pessoal aos morcegos.
   Tombaram do céu como folhas outonais numa tempestade. Gritei. Agarraram-se-me ao cabelo. Aos pés. Cravaram as suas pequenas garras no meu pulôver. Pendiam de mim como trapos. Olhei para Philip. Já não estava nu, mas sim, como eu, coberto por um manto vivo. Rapaz-morcego. Rapariga-morcego. Aprisionados. Juntos em Bat Peaks. Batiam as asas a um ritmo incrível. Erguiam uma tempestade de fúria ruidosa. Os meus pés deixaram de tocar o chão. Estava a voar.
Levada, para cima, para cima. Erguida nos ares por uma agitação de asas móveis. Segura por patas minúsculas.
   Vi uma explosão de pó a ser expelida da caverna lá em baixo. O tecto desabara. Como a presa de uma águia da montanha, era levada por entre os cumes das montanhas. E sobre mim, Philip, transportado pelo seu manto de amigos, pairava e mergulhava no céu vazio. Acenou-me e apontou algo.
Muito, muito lá em baixo, na esteira emaranhada das árvores, via-se um fio de fumo. A fogueira do acampamento do meu pai. Os morcegos começaram a descer. Transportando-nos pelo ar gelado.
   Pela primeira vez, Philip falou. Apontou para o acampamento e pronunciou uma só palavra.
   - Casa.
   E foi para lá que nos dirigimos.

GLOSSÁRIO:
-ciciava: segredava
-eremita: pessoa que vive isolada
-querosene: combustível
-frinchas: fendas
-estremunhada: sonolenta
-freneticamente: de modo agitado
-férrea: dura, inflexível
-perscrutando → perscrutar: examinar
-esteira: tapete feito de junco, folhas…